Uma queda de braço por dinheiro ameaça as escolas de samba cariocas, que anualmente encantam meio mundo com seus desfiles no Carnaval, anunciaram que não irão desfilar caso o prefeito do Rio de Janeiro, o ex-bispo evangélico Marcelo Crivella, não volte atrás em sua decisão de cortar pela metade o patrocínio oficial do município ao evento.
Crivella anunciou nesta semana que irá reduzir pela metade os dois milhões de reais de dinheiro público que cada uma das 12 escolas do grupo especial — a primeira divisão do Carnaval — recebe para realizar seus desfiles no Sambódromo. Parte desses recursos, segundo o prefeito, será destinada a aumentar o orçamento de creches com convênio público e dedicar, assim, 20 reais por dia para cada criança em vez dos 10 reais atuais. “O Carnaval é muito mais do que carros alegóricos. Vivemos restrições orçamentárias. É uma questão para refletir. Se vamos usar esses recursos para uma festa de três dias ou durante os 365 dias do ano”, disse o prefeito, que assumiu o posto em janeiro. Crivella, que prometeu apoio às escolas de samba durante a campanha eleitoral, defende, agora, que elas devem buscar outras formas de patrocínio privado para compensar a perda de verbas públicas.
A decisão causou irritação entre os amantes da festa, que defendem o evento como sendo parte da identidade e da história da cidade.
A influência da religião do prefeito nos assuntos locais também é objeto de discussão. Um dos principais líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella se esforça para desvincular de sua gestão a sua fé – que é contrária aos desejos da carne —, mas nem sempre consegue. Neste ano ele decidiu romper com a tradição de seus antecessores de inaugurar o evento com a entrega das chaves da cidade ao Rei Momo, personagem mitológico e símbolo do Carnaval, preferindo viajar para fora do país. Foi duramente criticado por isso. “Ninguém pode ser obrigado a fazer nada. Eu não fui porque, no meu caso, seria fazer demagogia”, disse. Num movimento semelhante ao ensaiado com as escolas de samba, Crivella, também prometeu durante a campanha que apoiaria o coletivo LGBT. Mas a Parada LGBT deste ano, outro dos grandes eventos do Rio comemorado em dezembro, tampouco terá recursos da Prefeitura.
Corte na Parada Gay e Marcha pra Jesus
O secretário municipal de Conservação e Meio Ambiente do Rio, Rubens Teixeira, que é pastor da Assembleia de Deus, fez uma postagem na rede social que foram replicados por frequentadores de igrejas de várias denominações. O GLOBO tentou falar com o secretário mas, segundo a assessoria de Teixeira, ele estava incomunicável, cuidando dos preparativos de sua volta para o Brasil. A assessoria argumentou ainda que o Facebook é um meio de comunicação particular do secretário, que não guarda relação institucional com a Prefeitura do Rio.
Durante parte do dia de ontem, Teixeira manteve no ar uma foto em que aparece ao lado de Crivella com informações sobre outras tesouradas: a prefeitura também não destinará recursos para a Parada Gay e para a Marcha para Jesus (evento evangélico da igreja Renascer em Cristo). “Prioridade de Crivella. # Cuidar das pessoas”, escreveu. Só à noite, a mensagem foi removida da página.
Durante parte do dia de ontem, Teixeira manteve no ar uma foto em que aparece ao lado de Crivella com informações sobre outras tesouradas: a prefeitura também não destinará recursos para a Parada Gay e para a Marcha para Jesus (evento evangélico da igreja Renascer em Cristo). “Prioridade de Crivella. # Cuidar das pessoas”, escreveu. Só à noite, a mensagem foi removida da página.