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Atraso no repasse do estado ameaça atendimento do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu

segunda-feira, setembro 12, 2016

/ by Jornal Destaque Baixada

NOVA IGUAÇU - O Hospital Geral de Nova Iguaçu, conhecido como Hospital da Posse, na Baixada Fluminense, pode ter o seu atendimento comprometido. Segundo a direção, o atraso no repasse de verbas do estado e os três anos sem reajuste nos recursos federais ameaçam o funcionamento da unidade.

O estado deveria repassar R$ 2 milhões por mês ao hospital, que atende pacientes de cidades da Baixada no “corredor’’ da Rodovia Presidente Dutra. Mas o primeiro repasse este ano, de R$ 7 milhões, só chegou na última semana.

Se por um lado os recursos são escassos, por outro, o atendimento só cresce. Em 2015, foram 130 mil. Só no primeiro trimestre deste ano, 48 mil.

Sem saber que estava com um tumor no intestino e com fortes dores na barriga, a aposentada Nilta Isabel Valentim da Cruz, de 69 anos, só conseguiu fazer o exame de colonoscopia no dia seguinte ao que deu entrada na emergência, em 24 de agosto.

— Tinha muita gente para esse exame. Tem plantão com 90 pacientes. O jeito é ter paciência — resigna-se Nilta, que operou logo após o exame.

O diretor médico da unidade, Lino Sieiro Netto, explicou que no dia em que ela deu entrada houve um alto número de cirurgias no hospital:


— A sala é usada para exame e para cirurgia. No dia 23 (de agosto), foram 12 cirurgias de urgência. Não conseguimos liberar para pacientes de cirurgias eletivas.

Com o atraso do estado e o repasse do governo federal considerado defasado pela direção do hospital, a unidade começa a enfrentar problemas para adquirir mais recursos.

— Do governo federal, o hospital recebe R$ 6,360 milhões por mês, mas hoje tem custeio em torno de R$18 milhões — comparou o diretor da unidade, Joé Sestello.

Peregrinação por ortopedista

A vendedora Tereza Amaral, de 60 anos, é um exemplo das centenas de pacientes que chegam de fora de Nova Iguaçu à procura de atendimento na Posse. Após fraturar o fêmur, a moradora de São João percorreu quatro unidades antes de conseguir ser atendida no hospital. Nenhum dos outros tinha ortopedista.

— Estava passando mal e chorando de dor, mas havia pessoas em estado mais grave do que eu. Mais de 50 com diversos tipos de fraturas. Cheguei às 10h e só fui atendida às 15h30 — lembrou Tereza, que se preparava para operar.

Para a direção, fechar leitos pode ser uma solução caso o estado continue atrasando os repasses e o Ministério da Saúde não atualize o valor.

— Pode acontecer de algum momento o prefeito chegar a rediscutir uma forma de reduzir o impacto, seja na urgência e emergência, ou na cirurgia eletiva. Ninguém ficou sem receber, mas foi feito um cronograma de pagamento com atraso — explicou Sestello.

Como consequência da superlotação, cresceu a demanda por insumos e medicamentos. Para controlar o fluxo desses materiais e de pessoas, foram instaladas 96 câmeras que monitoram em tempo real a farmácia, o almoxarifado e corredores de acesso que não sejam assistenciais.

— O que eu usava em janeiro de gaze e atadura, uso em setembro mais do que o dobro. Colocar de forma inicial no almoxarifado e farmácia para monitorar a movimentação de pessoas e a entrada e saída de material com muito rigor. Não podemos permitir que possa ter furto ou roubo — ressaltou o diretor da unidade.

Histórico do Hospital da Posse

O Hospital da Posse era federal e foi municipalizado em 2002. Na época, segundo a direção atual, houve um termo de cessão em que o estado e o Governo federal se responsabilizavam por participar do custeio do hospital mensalmente e junto com o município. Em 2013, a verba do Governo federal passou de R$ 3,3 milhões para o valor atual, de R$ 6, 360 milhões. Num termo de compromisso, a União se comprometeu a reajustar os valores dois anos depois, mas até agora nada.
Estado

A Secretaria estadual de Saúde informou que tem o compromisso de repassar R$ 1,5 milhão por mês para o Hospital da Posse e para a Maternidade Municipal Mariana Bulhões, e que, em julho, foram feitos repasses referentes a 2016. Os valores em aberto desde março de 2015 estão inscritos nos restos a pagar da contabilidade da Secretaria estadual de Fazenda.

Ministério da Saúde

A Prefeitura de Nova Iguaçu encaminhou quatro ofícios ao Ministério da Saúde pedindo o reajuste do valor, mas não foi atendida. O EXTRA entrou em contato com o ministério, mas não obteve resposta.

Internações

O Hospital da Posse foi recordista em internações no estado em 2014 e 2015. E é a unidade do do Rio que menos recebe recursos federais.

Resposta da Secretária estadual de Saúde na íntegra:

A Secretaria de Estado de Saúde informa que tem compromisso de repassar R$1,5 milhão mensais para o complexo hospitalar de Nova Iguaçu que compreende o Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI) e a Maternidade Municipal Mariana Bulhões. A pasta reforça que no último mês de julho foram feitos repasses referentes aos valores devidos durante o ano de 2016.

Ao assumir a pasta, em janeiro deste ano, a atual gestão encontrou valores em aberto desde março de 2015. Tais débitos estão inscritos nos restos a pagar da Secretaria de Estado de Fazenda, que é responsável pela quitação dos valores.

Como é de conhecimento público, o atual secretário de Estado de Saúde foi secretário de Saúde de Nova Iguaçu até 31/12/2015 e esteve à frente de todas as obras de revitalização do HGNI, além da reabertura da Maternidade Municipal Mariana Bulhões. O secretário reconhece a importância das unidades não apenas para a cidade de Nova Iguaçu como para toda a região da Baixada Fluminense.

Via Extra
Por Cíntia Cruz
12/09/2016
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