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Cidade ao lado da Baixada Fluminense não registrou um roubo sequer neste ano

terça-feira, setembro 20, 2016

/ by Jornal Destaque Baixada

O cheiro de lixo queimado vai ficando para trás conforme o carro avança pela RJ-127, rumo ao Centro-Sul Fluminense. Já não aparecem mais no retrovisor os pneus e pedaços de madeira bloqueando acessos a favelas que margeiam a rodovia, na altura da Baixada Fluminense. O EXTRA está chegando a Engenheiro Paulo de Frontin, a 100km da cidade do Rio, uma das duas únicas cidades do estado — a outra é Natividade, no Noroeste Fluminense — onde não foi registrado qualquer roubo entre janeiro e julho de 2016, segundo dados o Instituto de Segurança Pública (ISP).

Num estado em que a polícia contabilizou, este ano, quase 114 mil roubos dos mais diversos tipos — um a cada 2 minutos e 42 segundos, em média — os 13 mil habitantes de Paulo de Frontin tiveram paz nos 306.720 minutos entre 1º de janeiro e 31 de julho. Não que a vizinhança seja tranquila: a cerca de 40 quilômetros dali fica Queimados, município com 631 roubos em 2016. Japeri, com 384 registros este ano, está a apenas 22 quilômetros.

Numa manhã do início de setembro, o EXTRA encontrou a cidade de luto. Mas não por um crime. Logo na chegada, um carro de som anunciava o motivo: morreu, de causas naturais, um octogenário querido na região. As manchetes sobre a violência nas redondezas, exibidas nas bancas de jornais, parecem uma realidade distante.

— Se o jornal fosse daqui, ia dar um trabalho danado encontrar alguma coisa para escrever — brinca Jair Lopes, dono de uma banca.

A economia gira em torno da prefeitura e do comércio local. Nascido na fronteiriça Mendes, Felipe Silva pouco se preocupa com os bens deixados dentro de sua barbearia, decorada com vinis raros de artistas como Roberto Carlos e Fagner. A tranca da loja está empenada. No entanto, ele tem outras prioridades no orçamento.

— Estou querendo comprar uma vitrola. Todos se conhecem e sabe quem é de fora. Posso deixar a loja aberta, que ninguém vai levar ela — garante Felipe.

Policiais dão comida para os passarinhos

O aposentado Jorgildo Fialho, de 66 anos, passa os dias apoiado no muro amarelo de sua casa, observando o vai e vem dos carros. Os caminhoneiros passam e buzinam. E estranham se o senhor não estiver ali.

— Todo mundo diz que se eu não estiver aqui, tem alguma coisa errada na cidade. É como se fosse um carinho para mim — agradece o senhor.

Quando não têm muita coisa para fazer, os funcionários da delegacia aproveitam para alimentar passarinhos. No entanto, o delegado Luiz Fernando Nader, há 15 anos no local, garante que não falta trabalho.

— A população sabe quem chega aqui com más intenções, e confia na gente. Recebemos as informações e combatemos o problema na raiz — conta o delegado, que já trabalhou na 62ª DP (Imbariê), em Duque de Caxias.

Segundo Nader, o último roubo de maior proporção foi o assalto a um supermercado, em 2012. Atrapalhados, os bandidos deixaram cerca de R$ 20 mil para trás. Seu Jorgildo garante que não viu nada.


Escalada da violência no Estado do Rio

Os números de Paulo de Frontin vão na contramão do Estado do Rio e da vizinha Baixada. Dados do ISP mostram que a 64ª DP (Vilar dos Teles) e a 59ª DP (Caxias) são as delegacias no topo do ranking dos registros de roubos. Na primeira, 5.411 ocorrências foram registradas entre janeiro e julho deste ano. Na segunda, os casos de roubo chegaram a 4.910 nos primeiros sete meses de 2016.

Na média, em ambas houve cerca de um registro por hora. Em todo o Estado do Rio, os roubos cresceram 31,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

De acordo com a série histórica do ISP, apenas um roubo a pedestre foi registrado na delegacia de Paulo de Frontin desde 2013. Roubo de veículo, também só houve um neste período. Em todo o ano de 2015, foram apenas seis registros de qualquer tipo de roubo — uma média de um a cada dois meses. O mês mais “violento” do ano passado foi maio: três registros.

Outros municípios da região do Vale do Café, como Mendes, Miguel Pereira, Rio das Flores, Vassouras e São José do Rio Preto, registraram estatísticas semelhantes. Zero, porém, só em Paulo de Frontin.

Por: Lucas Gayoso

Crédito: jornal Extra
Fotos: Márcio Alves
20/09/2016
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