Num estado em que a polícia contabilizou, este ano, quase 114 mil roubos dos mais diversos tipos — um a cada 2 minutos e 42 segundos, em média — os 13 mil habitantes de Paulo de Frontin tiveram paz nos 306.720 minutos entre 1º de janeiro e 31 de julho. Não que a vizinhança seja tranquila: a cerca de 40 quilômetros dali fica Queimados, município com 631 roubos em 2016. Japeri, com 384 registros este ano, está a apenas 22 quilômetros.
Numa manhã do início de setembro, o EXTRA encontrou a cidade de luto. Mas não por um crime. Logo na chegada, um carro de som anunciava o motivo: morreu, de causas naturais, um octogenário querido na região. As manchetes sobre a violência nas redondezas, exibidas nas bancas de jornais, parecem uma realidade distante.
— Se o jornal fosse daqui, ia dar um trabalho danado encontrar alguma coisa para escrever — brinca Jair Lopes, dono de uma banca.
A economia gira em torno da prefeitura e do comércio local. Nascido na fronteiriça Mendes, Felipe Silva pouco se preocupa com os bens deixados dentro de sua barbearia, decorada com vinis raros de artistas como Roberto Carlos e Fagner. A tranca da loja está empenada. No entanto, ele tem outras prioridades no orçamento.
— Estou querendo comprar uma vitrola. Todos se conhecem e sabe quem é de fora. Posso deixar a loja aberta, que ninguém vai levar ela — garante Felipe.
Policiais dão comida para os passarinhos
O aposentado Jorgildo Fialho, de 66 anos, passa os dias apoiado no muro amarelo de sua casa, observando o vai e vem dos carros. Os caminhoneiros passam e buzinam. E estranham se o senhor não estiver ali.
— Todo mundo diz que se eu não estiver aqui, tem alguma coisa errada na cidade. É como se fosse um carinho para mim — agradece o senhor.
Quando não têm muita coisa para fazer, os funcionários da delegacia aproveitam para alimentar passarinhos. No entanto, o delegado Luiz Fernando Nader, há 15 anos no local, garante que não falta trabalho.
— A população sabe quem chega aqui com más intenções, e confia na gente. Recebemos as informações e combatemos o problema na raiz — conta o delegado, que já trabalhou na 62ª DP (Imbariê), em Duque de Caxias.
Segundo Nader, o último roubo de maior proporção foi o assalto a um supermercado, em 2012. Atrapalhados, os bandidos deixaram cerca de R$ 20 mil para trás. Seu Jorgildo garante que não viu nada.
Escalada da violência no Estado do Rio
Os números de Paulo de Frontin vão na contramão do Estado do Rio e da vizinha Baixada. Dados do ISP mostram que a 64ª DP (Vilar dos Teles) e a 59ª DP (Caxias) são as delegacias no topo do ranking dos registros de roubos. Na primeira, 5.411 ocorrências foram registradas entre janeiro e julho deste ano. Na segunda, os casos de roubo chegaram a 4.910 nos primeiros sete meses de 2016.
Na média, em ambas houve cerca de um registro por hora. Em todo o Estado do Rio, os roubos cresceram 31,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com a série histórica do ISP, apenas um roubo a pedestre foi registrado na delegacia de Paulo de Frontin desde 2013. Roubo de veículo, também só houve um neste período. Em todo o ano de 2015, foram apenas seis registros de qualquer tipo de roubo — uma média de um a cada dois meses. O mês mais “violento” do ano passado foi maio: três registros.
Outros municípios da região do Vale do Café, como Mendes, Miguel Pereira, Rio das Flores, Vassouras e São José do Rio Preto, registraram estatísticas semelhantes. Zero, porém, só em Paulo de Frontin.
Por: Lucas Gayoso
Crédito: jornal Extra
Fotos: Márcio Alves
Fotos: Márcio Alves
20/09/2016