A mãe do policial, Marilene José Martins, de 60 anos, foi a primeira a ser morta, aponta a perícia, com golpes de enxada. Ela teria aberto a porta de sua casa, que não apresenta sinal de arrombamento e, em seguida, tentado fechá-la para impedir que o criminoso entrasse na casa. Mas foi em vão. Ao ver a mãe ser atacada, Fernando José Martins, 36, teria travado uma luta com o criminoso, de acordo com a perícia, e foi morto a facadas.
“Houve uma luta corporal evidente, notória, e a partir desse segundo evento, ele partiu para as crianças, que estavam no quarto ao lado”, disse Giniton. Kauani, 5, e Ester, 7, foram estranguladas e morreram por asfixia mecânica.
As duas meninas viviam há algum tempo com Marilene, que as adotou como filhas porque os pais biológicos não tinham condições de criá-las. Segundo a polícia, a mãe vive em situação de rua e usa crack, tendo abandonado as crianças ainda pequenas. Já o pai, Leonardo Gomes Gregório, de 25 anos, frequentava a casa de Marilene para visitá-las, segundo vizinhos e o delegado. Ele prestou depoimento ontem na DH e foi liberado.
Estava marcada para hoje uma audiência para tratar da transferência da guarda das duas para Marilene. A questão da guarda e a relação do pai com Marilene será apurada pela polícia. “O pai das crianças está sendo ouvido. A princípio, no primeiro contato que tivemos, essa relação se dava de maneira cordial e tranquila”, afirmou Giniton. Ele acredita, inicialmente, que a disputa pela guarda não esteja relacionada à motivação do crime.
Marilene criava as meninas como se fossem suas próprias filhas. “Ela tinha muito amor por essas crianças. Pôs as meninas na escola, cuidava delas. O marido dela faleceu tem uns dois anos e ela cuidava da família toda. Muito triste o que aconteceu”, contou uma vizinha.
Embora não descarte ainda nenhuma hipótese, o delegado não acredita que o crime tenha sido motivado por vingança contra Cristiano, lotado no 5º BPM (Praça da Harmonia). “Muito remoto imaginar que uma circunstância familiar da vítima com o PM tenha motivado esse crime”, disse.
Casa na rota do tráfico
Para o delegado, o que reforça a suspeita de crime passional é o ‘modus operandi’ do assassino, que não é comum para latrocínio, nem tampouco para tráfico de drogas. “Não temos presença de armas de fogo, como é comum em crimes praticados pelo tráfico e, por outro lado, temos uma carga emotiva grande. Sempre que há morte de criança, essa carga emotiva ressalta. E cada vítima morreu com um instrumento diferente”, explicou Giniton.
Informações preliminares indicavam o envolvimento de traficantes no crime, por conta da localização da casa, na Rua Bom Jardim, em uma passagem do tráfico no Parque Tietê. Entretanto, embora não desconsidere essa possibilidade por completo, o delegado acredita que a chacina tenhamtraços de crime passional. “O crime tem desenhos específicos, há vestígios muito peculiares”, destacou, lembrando, que ainda é muito cedo para determinar a motivação.
Vítima abriu a porta para o assassino
O irmão de Marilene, Roberto José Martins, de 57 anos, dormia em sua casa, anexa à residência onde houve a chacina. Segundo a polícia, ele sofre de transtorno mental e alcoolismo e foi ouvido ontem, com o acompanhamento de psicólogos. “O depoimento dele é muito importante porque pode ter percebido alguma coisa que pode ajudar a desvendar dessas mortes”, disse o delegado.
Para Giniton, é possível que o criminoso fosse conhecido da vítima (Marilene). “A percepção da perícia técnica é de que Marilene foi morta perto da principal porta de acesso à residência. No momento em que percebeu o autor e abriu a porta para ele, ela tentou virar a chave e não conseguiu fechar. Aí foi golpeada”, disse. Também prestaram depoimento o PM que encontrou a família morta, o pai das crianças, familiares e vizinhos.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Por Luiza Sanção
Por Luiza Sanção
Crédito: O dia
21/10/2016