Com a promessa de atrair empresas, os 71,2 quilômetros do Arco Metropolitano, que ligam Caxias a Itaguaí, foram construídos numa pareceria dos governos federal e estadual. O futuro, porém, pisou no freio. Dos 30 mil carros esperados por dia, apenas 15 mil atravessam a rodovia, segundo a Secretaria estadual de Obras. As margens continuam desabitadas, salvo alguns casebres. Até os postes com placas de energia solar — que custaram R$ 22 mil cada — precisam de manutenção.
— Passo no Arco Metropolitano duas vezes por semana. A via é muito boa, mas não é tão utilizada como eu achei que seria. Não tem uma lanchonete ou um lugar para os motoristas pararem para comprar um café. É deserto, as lâmpadas às vezes estão quebradas e fica muito perigoso à noite — conta o caminhoneiro Hudson Muniz, de 33 anos.
O Extra atravessou o Arco no último dia 18, no dia seguinte à prisão de Cabral. O movimento de carros cai significativamente após Nova Iguaçu e continua baixo até o Porto de Itaguaí. Segundo policiais militares da área, é neste trecho que acontecem os assaltos. O Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) informou que viaturas fazem uma média de oito operações diárias na via.
Propina de 5% para o ex-governador
O Arco Metropolitano é citado nas delações premiadas de executivos das construtoras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) do Rio, os delatores contaram como o processo de licitação da obra foi fraudado e que houve cobrança de propina de 5% para Sérgio Cabral.
Segundo o parecer do MPF, Rogério Nora, então presidente da Andrade Gutierrez, disse que o processo foi liderado pelo ex-secretário de Governo Wilson Carlos e pelo ex-secretário de Obras Hudson Braga. Os dois estão presos. Mesmo com tudo acertado, a construtora deixou o consórcio. Já Roberto José Teixeira Gonçalves, ex-diretor da Carioca, afirmou que, após o início das obras, foi informado do pagamento da “taxa de oxigênio” (nome para propina), no valor de 1%, a pedido de Braga.
Governo deve criar atrativos para empresas
Na época da inauguração do Arco Metropolitano, a Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) previu que a rodovia iria alavancar o PIB estadual em R$ 1,8 bilhão. Segundo o economista da instituição Riley Rodrigues, a via ainda não virou um polo econômico.
— O potencial de geração de desenvolvimento do Arco não é a rodovia, mas a ocupação de seu entorno, que depende de ações do governo. Elas ainda precisam ser realizadas para que ele se torne um grande polo econômico — diz.
Para Istvan Kasznar, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas, uma opção para movimentar o Arco é criar infraestrutura:
— Um shopping ou supermercado poderia atrair empresas. A importância da obra foi magnificada. Caíram na real e precisam criar atrativos para desenvolver a via.
Foto: Marcelo Theobald/Extra
Marina Navarro Lins
28/11/2016
28/11/2016