— Ela amanheceu vomitando e com dor de cabeça. Mandaram procurar outra unidade, mas eu vou para casa. Não tenho passagem — lamentou Michele, moradora do bairro Santa Rita.
O aposentado Manoel José da Silva, de 92 anos, também voltou para casa. Mesmo com dores no corpo, sequer passou pela triagem:
— Mandaram voltar amanhã e pegar número para marcar consulta no ambulatório.
A situação se repete em outras unidades de emergência no município. Seja por falta de médico, medicamentos ou funcionários, quem paga a conta é a população.
Na UPA de Comendador Soares, não há medicamentos e o laboratório não está funcionando, informou um funcionário. A manicure Érica Gomes dos Santos, de 20 anos, não conseguiu atendimento para o filho Érick, de 5, na última sexta. O menino estava com febre de 38,5°C:
— Na porta, já disseram que não havia médico.
Na última sexta-feira, a autônoma Élida Mota Soares, de 25 anos, contou que nem a sala vermelha estava com todos os recursos disponíveis:
— Minha avó de 80 anos infartou na segunda-feira, dia 28, e foi direto para essa sala vermelha. Mas nem exames estão sendo feitos lá.
Na emergência 24 horas da Clínica da Família de Austin, o “Mais Baixada’’ flagrou uma mulher com três filhos de 3, 7 e 9 anos voltando para casa por não conseguir pediatra. As crianças estavam vomitando.
—Eles estão com vômito, febre e diarreia, mas não atenderam porque não tem medicação. É um absurdo, uma vergonha — desabafou a mulher, que preferiu não se identificar.
Sem filme para exame de raio-X
Na unidade de Austin, que ficou uma semana fechada, também faltam materiais para exames, afirmou o eletricista João Antônio Borba dos Santos, de 47 anos:
— Dia 25 de novembro, minha mãe de 83 anos não conseguiu fazer um raio-X porque não tinha filme.
Um funcionário da unidade disse que está sem receber há dois meses e que a falta de atendimento na unidade é devido à procura de pacientes de outras cidades.
Leia a resposta da Prefeitura de Nova Iguaçu na íntegra:
A Prefeitura de Nova Iguaçu tem se esforçado ao máximo por meio da Secretaria Municipal de Saúde para garantir atendimento aos moradores e reconhece os problemas pontuais enfrentados, como a falta de medicamento e insumos. Porém, com o agravamento da crise econômica muitas unidades de saúde da Baixada Fluminense fecharam as portas ou deixaram de prestar socorro por falta de estrutura. O problema tem resultado na superlotação das Clínicas da Família 24hs de Nova Iguaçu. Na UPA Municipal de Comendador Soares, por exemplo, os atendimentos aumentaram 40% em apenas um ano. A unidade, que tinha capacidade para receber cerca de 70 mil pacientes/mês, hoje (nesta segunda-feira) passou dos 100 mil.
Com isso, a Secretaria Municipal de Saúde se viu obrigada a restringir os atendimentos na UPA e também nas Clínicas da Família 24hs (Austin, Miguel Couto e Vila de Cava), assim como já foi feito no HGNI e na Maternidade Mariana Bulhões. Os casos de maior gravidade são priorizados.
Por: Cíntia Cruz
Foto: Guilherme Pinto
via: jornal extra
06/12/2016