NOVA IGUAÇU - No dia 31 de janeiro deste ano, a mãe de santo Maianguelê, de Nova Iguaçu, recebeu, via Whatsapp, as fotos de três procuradores responsáveis pela Operação Calicute — que prendeu Sérgio Cabral. Enviadas por Michele dos Santos Linhares, as mensagens que acertavam um “trabalho” constam num relatório da Polícia Federal publicado pelo colunista Ancelmo Góis, de “O Globo”. Dois dias após a conversa, o marido de Michele, Ary Ferreira da Costa Filho, o “Ary Fichinha”, foi preso com a acusação de ser um dos principais operadores financeiros do esquema comandado pelo ex-governador.
Em seu terreiro na Baixada Fluminense, Maianguelê explicou que não faz “trabalhos” para o mal e que o objetivo era apenas acalmar Michele, que frequenta o local há dois anos. Por uma infeliz coincidência, o nome de registro da mãe de santo é Marineide Sérgio Cabral (isso mesmo que você leu). Para os íntimos, é apenas Neide.
— Só ia usar as fotos para jogar búzios e ter uma ideia do que podia acontecer. Acabou que não deu tempo, pois o marido dela foi preso em seguida. Fora isso, o trabalho tinha como objetivo acalmar a Michele. Disse para ela o que falo para todos: “deixe que os orixás tomem conta” — afirma.
Dona da casa Ilê Salemim d’Uizzamme há 23 anos, Neide, de 51, diz que é muito ocupada para acompanhar o noticiário. Ela classifica o comportamento dos políticos como “uma pouca vergonha” e é taxativa sobre o seu homônimo Sérgio Cabral: “o fim da picada”.
— É a primeira vez que se fala de Lava-Jato nessa casa. Você acha que se eu trabalhasse pra eles meu terreno estaria assim? Com todo aquele dinheiro! — brinca.
Nas mensagens trocadas com Neide, Michele incluiu ainda nomes de “pessoas que querem prejudicar”. Entre eles, estão o do ex-governador Anthony Garotinho e de dois jornalistas.