A construção de um cemitério público em Caxias está dividindo opiniões na cidade. O espaço fica às margens da Rodovia Washington Luiz, a poucos metros do Hospital municipal Moacyr do Carmo e à beira da Baía de Guanabara. A prefeitura já começou as obras no local, pegando muita gente de surpresa, já que por ali havia uma área verde.
Nas redes sociais, o corte da mata já gerava indignações antes mesmo dos moradores da cidade saberem que ali haveria um cemitério.
— Isso é um ataque ao meio ambiente. O recado parece já que não tem dinheiro para a Saúde, vamos dar dignidade no enterro — critica o gari Anderson Trindade.
Condenado por crime ambiental em dezembro, o prefeito Washington Reis negou que esteja cometendo infração. Reis afirmou ainda que a intervenção está custando R$ 650 mil
— Ali era um lixão, local de entulho. Não tinha uma árvore. Tinha era mato, capim. O que fizemos foi uma limpeza da área — argumenta Reis.
Desde que assumiu o mandato, em janeiro, Reis tem tentado assumir a administração dos cinco cemitérios da cidade, mas a Justiça não autorizou porque existe um contrato em vigor. Desta forma, Reis optou por construir um novo.
— O Zito (ex-prefeito) entregou os cemitérios para um grupo econômico explorar por 25 anos. Hoje, estamos com 10, 12 corpos na geladeira dos hospitais porque muitas famílias não têm condições de fazer o sepultamento. O preço cobrado em Caxias é, em média, de R$ 4 mil — diz.
Zito se defendeu da acusação:
— Houve uma licitação e o grupo venceu — alega José Camilo Zito.
Enterros serão gratuitos
O cemitério está sendo construído em uma área de mais de 32 mil quadrados e terá um total de 11.346 gavetas. De acordo com a administração municipal, todos os sepultamentos do local serão gratuitos para os cidadãos que comprovarem residência em Caxias, independente da renda.
— Pode ser rico ou pobre. Qualquer cidadão caxiense que paga imposto tem que ser respeitado — diz Reis.
O prefeito ainda afirmou que o local deve estar pronto até o fim deste mês. As obras estão sendo tocadas pela Secretaria municipal de Obras através de administração direta, ou seja, com funcionários da própria prefeitura.
— Vou fazer um cemitério em cada distrito. Já estou procurando outros terrenos. Hoje, ninguém pode fazer velório no Corte do Oito de madrugada por medo de assalto — entrega.
A proximidade com o hospital preocupa moradores.
— É preciso estudar melhor o projeto para saber se o cemitério levaria roedores e insetos para o Moacyr do Carmo — comenta o infectologista Edimilson Migowski, presidente do Instituto Vital Brazil.
INEA
O Instituto Estadual do Ambiente esclareceu que a área foi aterrada e a vegetação é composta por leucena (espécie invasora). O Inea explicou que o licenciamento é do município.
CONDENADO
Em dezembro, o STF condenou Reis a sete anos de prisão em regime semiaberto por crime ambiental, além de pagamento de multa. Os ministros consideraram irregular a divisão de terrenos vendidos ao então deputado para a construção de um loteamento em Xerém. Reis está recorrendo.
Reportagem; Igor Ricardo
Foto: Cléber Júnior / Extra
via: jornal extra
05/07/2017