Reportagem; Cíntia Cruz
SÃO JOÃO DE MERITI - Um momento que deveria ser de felicidade terminou de forma trágica, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Dois dias depois de dar à luz gêmeos na Associação de Caridade Hospital São João de Meriti, a costureira Andressa Alvarenga Mateus Amorim, de 27 anos, morreu. Segundo a família, a jovem precisava de bolsas de sangue, mas não havia na unidade.
— Ela começou a passar mal na quinta-feira, um dia depois do parto. Foi ficando com os lábios brancos, não conseguia se levantar nem comer. Ficou o tempo todo no soro. Por volta das 17h, o médico que fez a operação disse que já havia solicitado sangue ao Hemorio e que, quando a bolsa de sangue chegasse, ela iria melhorar e teria alta no dia seguinte. Mas ela morreu nos meus braços — lamentou o pai das crianças, Douglas Pinho Gonçalves, de 27 anos.
Ele contou que o sangue chegou somente por volta das 23h e que, cerca de duas horas antes, Andressa teve vômitos. Depois, começou a ter convulsões:
— Levaram ela para a mesa de cirurgia, mas não deu tempo. Quando o sangue chegou, ela já tinha morrido. Eu fui ver o corpo dela e ainda eram 23h. Mas o hospital declarou que ela morreu depois de meia-noite.
Pelo parto, a família pagou R$ 2,5 mil. Mesmo a unidade sendo filantrópica e conveniada com o SUS. Segundo Douglas, o pré-natal de Andressa foi feito numa clínica particular em frente ao hospital, com o mesmo médico que operou a mulher.
— Quando ela chegou de manhã passando mal, tentou passar o cartão no débito, mas o médico disse que só poderia operar mediante o pagamento em dinheiro. Como eu estava trabalhando, a tia dela foi pegar o dinheiro com minha sogra.
O pai dos bebês também questionou a atitude do médico que, segundo ele, não soube informar a causa da morte:
— Ele disse que, em 25 anos de experiência, não sabia o que tinha acontecido, mas que iria encaminhar o corpo dela para o IML para saber a causa e estaria lá na manhã seguinte. Nunca mais apareceu.
Na declaração de óbito de Andressa, constam como causas hemorragia interna e hemoperitônio — presença de sangue na cavidade peritoneal, no abdômen.
Em nota, a Prefeitura de São João de Meriti disse que a Associação de Caridade Hospital de São João de Meriti é uma instituição filantrópica, conveniada ao SUS. Informou que a responsabilidade pela paciente é do médico que a atendeu e do hospital referido, mas disse que a Secretaria Municipal de Saúde montou uma comissão técnica que está investigando o caso.
A Polícia Civil informou que o registro foi feito na 64 DP (Meriti), que "abriu procedimento para apurar os fatos. Familiares, amigos e vizinhos de Andressa Alvarenga Mateus Amorim e os funcionarios do hospital envolvidos no atendimento estão sendo chamados para serem ouvidos na unidade policial. A polícia aguarda o resultado do laudo do IML. Outros procedimentos estão sendo tomados para apurar os fatos."
A Secretaria Estadual de Saúde está apurando a informação sobre a solicitação de sangue feita pelo hospital ao Hemorio.
O corpo de Andressa Amorim foi liberado do IML às 15h deste sábado. O enterro será às 17h, no Cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti, Baixada Fluminense.
via: jornal Extra
20/08/2017