Reportagem; Gustavo Goulart
A Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Segurança e do Ministério Público do Rio, com apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (Draco-IE), fazem uma operação, nesta terça-feira, para prender envolvidos num esquema de receber propina para dar alvarás a comércios. Os agentes visam a cumprir 38 mandados de prisão e 67 ordens de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, nas casas dos suspeitos, quartéis do Corpo de Bombeiros e sede de empresas. Até as 10h, 34 haviam sido cumpridos.
Entre os presos estão dois assessores do comandante-geral, alguns coronéis e tenentes coronéis. Mais de R$ 60 mil foram apreendidos na casa do tenente-coronel Silva André, além de um carro Kia Sportage novo. Uma BMW foi encontrada na casa do cabo Flavio Feliciano, motorista do coronel André Morgado. Também foi detido um dos três empresários alvos da ação. Os outros dois estão viajando, segundo o Ministério Público.
Os mandados de prisão, expedidos pela 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, são cumpridos contra os comandantes de Caxias e Nova Iguaçu, Irajá, GOPP, Copacabana, Campinho, Jacarepaguá e do Destacamento de Paracambi e de sete Coronéis da reserva. Os dois assessores indicavam os comandantes destas unidades, que contavam com a participação dos bombeiros lotados no setor de Engenharia, além de bombeiros da reserva e civis, que intermediavam os pagamentos das propinas pagas por empresários para obtenção do documento que permitia o funcionamento do empreendimento.
Alguns dos alvos foram flagrados em interceptações telefônicas. Além disso, os comandantes de alguns batalhões estão entre os citados na operação. As investigações revelaram uma organização criminosa de venda ilegal de documentos para funcionamento de estabelecimentos comerciais. Os presos estão sendo levados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio.
O esquema de corrupção acontecia principalmente no Setor de Engenharia do 4º Grupamento do Bombeiro Militar de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), do 14º Grupamento do Bombeiro Militar de Duque de Caxias (Baixada Fluminense) e do Grupamento de Operações com Produtos Perigosos (GOPP). Neste último, há oficiais bombeiros que são responsáveis pela documentação fundamental para que qualquer comércio funcione.
As investigações sobre o esquema de recebimento de propina começaram no quartel dos bombeiros de Nova Iguaçu. Mas a polícia apurou que o grupo atuava também em outros municípios do Rio. As investigações comprovaram que locais de diversões que reuniram grande público, inclusive um estádio de futebol, receberam as documentações sem cumprimento das exigências de segurança para proteção da vida das pessoas e do patrimônio, caso houvesse incêndio.
Segundo a Subsecretaria de Segurança, os acusados se aproveitavam da condição de bombeiro militar para fiscalizar os estabelecimentos com objetivo de notificar os responsáveis e, com isso, provocar um acordo para negociar valores ilícitos. Após a fiscalização, os acusados emitiam um laudo de exigências contendo todos os requisitos de segurança contra incêndio e pânico, no entanto, mesmo sem o cumprimento destas normas, após o pagamento de propina, os criminosos expediam o documento que atestava o cumprimento de todas as exigências.
As investigações comprovaram que locais que reuniram grande público, inclusive um estádio de futebol, receberam as documentações sem cumprimento das exigências de segurança para proteção da vida das pessoas e do patrimônio, caso houvesse incêndio.
A ação - batizada de Operação Ingenium (engenharia, em latim) - conta com agentes da Corregedoria Geral Unificada (CGU); da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (Draco-IE); do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Rio; e da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança (SSINTE).
Militares ficaram surpresos
No quartel do Centro do Rio, os portões estão fechados. Só são abertos com a chegada de veículos da corporação ou para a entrada de militares a pé. A movimentação de repórteres e cinegrafistas em frente ao quartel está chamando atenção de muitos pedestres. Até bombeiros que chegam para trabalhar se surpreendem e perguntam o que está acontecendo. Dentro da unidade bombeiros estão perfilados à espera de ouvir o comunicado de algum superior.
— Que Deus seja louvado! Que todos eles sejam presos — disse um bombeiro militar fardado, ao telefone, quando passava pelo portão principal de acesso ao quartel.
Bombeiros dizem colaborar com as investigações
Em nota, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que colabora com as investigações da polícia:
"O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) informa que acompanha, desde o início da manhã, a operação do Ministério Público. A corporação está colaborando com as investigações".
Via: Jornal Extra
12/09/2017