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Família quer R$ 12 milhões para desocupar Estação Vila de Cava, em Nova Iguaçu

sábado, setembro 02, 2017

/ by Jornal Destaque Baixada
Reportagem; Davi de Castro

O sonho de colocar no bolso uma bolada de R$ 12 milhões, além de ganhar casa própria para desocupar as dependências da velha e destruía estação ferroviária de Vila de Cava, está longe de se tornar realidade na vida de uma família que residia no local. São 12 herdeiros que aguardam a montanha de dinheiro há 27 anos.

Ao contrário disso, dos herdeiros do primeiro morador Silais Pereira da Silva, agente ferroviário, falecido na década de 1990, cinco já morreram sem ver a cor do dinheiro ou sentir o cheiro de tinta da casa nova. E os demais correm o risco de deixar o imóvel, que é tombado, para restauração, conforme sentença da Justiça.

A pendenga judicial se arrasta pelos gabinetes da Justiça desde a morte de Silais, e, atualmente tem o número 888.83-2013.4.02.5120 em instância federal. O processo envolve uma suposta indenização trabalhista de R$ 12 milhões e casa própria para que os descendentes diretos, Vicente do Nascimento, Denise Pereira da Silva, Fernando Pereira da Silva, Nilo Sérgio Pereira da Silva (que faleceu, vítima de infarto, há dois meses) e Alexandre Borges da Silva, 44 anos.

Ao tomar conhecimento da sentença, acionando a prefeitura de Nova Iguaçu, a União e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para proceder a restauração da estação, que é tombada “provisoriamente”, desde 1989, a família entende que para proceder a referida restauração, seria necessário a desocupação. Pensando assim, Alexandre, o Alex, um dos herdeiros, neto de Silais, não arredou o pé do local, onde mora com toda a família. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seção de Nova Iguaçu, aguarda o comparecimento da família para estrear sua participação na novela jurídica.

Morreram ser ver a cor dinheiro


A velha e depredada estação ferroviária, fundada em 1883, no centro de Vila de Cava, está quase totalmente destruída pela ação do tempo e do homem. Atualmente se encontra sem telhado, com paredes e janelas quebradas, cheia de entulhos de obras, lixo de várias naturezas, cercada por um muro improvisado com madeira e pedaços de telhas de amianto. Aliás, a parte coberta é um banheiro sem porta, de frente para a rua. É neste cenário que Alex mora com a família. “Eu não quero saber de casa própria. Eu quero o dinheiro. A família tinha 12 pessoas e cinco já morreram sem ver a cor do dinheiro. São R$ 12 milhões de indenização. Com a minha parte, compro a minha casa onde eu quiser. Mas disseram que o governo não tem dinheiro pra pagar. Aí está parado. Estamos aguardando”, disse. Fernando, filho de Silais, já perdeu a esperança. “Meu pai e minha mãe morreram sem nada receber. Aliás, ela esperou três meses para receber a pensão. Já pegaram nossos documentos para receber indenização e casa, mas nada disso aconteceu. Não se falou mais nada… não recebemos nada”, lamenta.

OAB entra na novela
Os Dr. Jorge Rosemberg, presidente da OAB de Nova Iguaçu, e Dra Suzana Oliveira
Foto: Davi de Castro

O presidente da OAB de Nova Iguaçu, o advogado Jorge Rosemberg, tomou conhecimento do caso através do Jornal de Hoje. Ele disse que aguarda a presença da família de Silais para encaminhar o caso à Comissão de Direitos Humanos. Já a advogada Suzana Oliveira Santos, indicada pela Justiça Federal para acompanhar a família, que recorreu contra a desocupação do imóvel, disse que “a decisão é que os órgãos restaurem o prédio. A sentença não trata de indenização”.

Como tudo começou


Por força da função de agente ferroviário da então Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), que virou Central do Brasil e hoje é Supervia, Silais Pereira da Silva, ganhou o direito de morar no prédio da estação, em 10 de dezembro de 1969, conforme documento em poder da família. Ao falecer, na década de 90, com 50 anos de idade, vítima de infarto, os herdeiros alegam que a família não recebeu a indenização trabalhista a que ele teria direito pelos anos de trabalho. Passados 30 anos, a esposa Arlinda, que continuou morando no local, com filhos e netos, faleceu aos 80 anos, sem receber a indenização, o qual a família supõe que ela teria direito. E a novela continua.


Nova Iguaçu não cuida do patrimônio



Em Nova Iguaçu, governantes não cuidam de seus patrimônios históricos e nem criam ou valorizam setores voltados para este setor. O melhor exemplo disso são as ruínas da Fazenda São Bernardino, situada à margem Estrada Federal de Tinguá. O imóvel neoclássico do século XIX, construído pelo português Bernardino de Souza Melo, genro de Comendador Soares, onde havia escravos e se produzia café, cana de açúcar, farinha, cachaça e exportava madeira e carvão. O casarão era o glamour arquitetônico da época. Tombada como patrimônio histórico em 1951, foi abandonado pelo município e sofreu incêndio criminoso em 1982. Até hoje os governos de Nova Iguaçu nunca souberam os motivos ou seus autores do crime e, muito menos, cuidou de sua restauração ou fez qualquer gestão política nesse sentido.

>>Um fato inusitado – aconteceu na década de 90, com a Casa de Cultura construída no centro de Miguel Couto. Por falta de portas, o local começou a ser usado para molestar mulheres e venda de drogas. Ao receber reclamações para resolver o problema, o secretário de Obras da época, Rogério Lisboa, mandou derrubar o prédio, em vez de colocar as portas e fazê-lo funcionar. Atualmente, Rogério, também chamado de ‘menino maluquinho’, é o prefeito da cidade.

Patrimônios abandonados


A Capela da Sagrada Família, no Alto da Posse, arquitetura colonial religiosa ibérica, Igreja de Santo de Jacutinga, Igreja da Prata, todas do século XIX, Nossa Senhora de Marapicu (1728), Capela de Nossa Senhora de Guadalupe (século XVIII), ainda estão de pé por serem imóveis habitados. Ao contrário das ferrovias do Rio D´Ouro e das estações de trem de Vila de Cava, Tinguá e Iguaçu Velho, onde começou a cidade, nem existe mais.

A torre Sineira da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, do século XVII e o Cemitério de Nossa Senhora do Rosário (1875), conhecido como cemitério dos homens brancos, está desativado e em ruínas. Nele não se podia sepultar escravos e nem evangélicos (crentes), por lei do Brasil Colonial. Estes eram sepultados no cemitério dos Escravos, hoje local esquecido no matagal. E o Porto Iguaçu (XVII), por onde se transportava as riquezas da região, nem se fala mais nisso.

Muitos destes patrimônios foram tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e Iphan. Todavia, se encontram abandonados por todos, principalmente pelos governos de Nova Iguaçu, que nem promovem campanhas de visitações nestes locais.

>>Colégio Leopoldo – Aliás, esse papel de visitação a locais históricos tem sido feito pelo Colégio Leopoldo Machado que, além de tratar do assunto em sala de aula, leva os alunos para visitação a patrimônios culturais da Baixada e do Rio de Janeiro.
via: Jornal de hoje
02/09/2017
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