Reportagem; Guilherme Ramalho, Renan Rodrigues e Simone Candida
No dia em que negou haver proposta de privatização das três universidades estaduais, o governador Luiz Fernando Pezão anunciou, nesta quarta-feira, que enviará este mês à Assembleia Legislativa um projeto de lei determinando que os alunos da Uerj, da Uezo e da Uenf trabalhem para o estado por dois anos. Seria uma compensação por terem estudado gratuitamente. A proposta de Pezão, divulgada ontem em entrevista à CBN, foi novamente defendida na cerimônia de apresentação do Regime de Recuperação Fiscal.
— Precisamos fazer uma reforma estruturante em todas as universidades. Esse universitário, que estuda cinco ou seis anos, tem que retornar alguma coisa para o estado. Ele trabalha para o estado por uns dois anos. É uma lei que quero mandar para a Alerj e discutir com a sociedade. Esse aluno que estudou de graça em nossa universidade tem que prestar um serviço, em qualquer área — afirmou o governador.
Para Pezão, os alunos das universidades públicas devem oferecer contrapartida ao estado, atuando em áreas relacionadas à sua formação. Ele não explicou se o estudante teria algum tipo de remuneração ou ajuda de custo. Nem como seria a carga horária.
— Temos que racionalizar isso. Uma pessoa que estuda anos na faculdade pode dar retorno para o estado no futuro. Um médico, por exemplo, pode trabalhar numa UPA, num hospital — disse Pezão, que ressaltou que terrenos pertencentes à Uerj podem ser usados para criar um fundo imobiliário voltado para a instituição. — A Uerj tem um patrimônio extraordinário em terrenos que pode estar ajudando a Uerj a construir um patrimônio — completou.
O reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, que pela manhã disse ter ficado “estarrecido” com a sugestão do Tesouro Nacional de privatizar as universidades, evitou polemizar. Ele afirmou ter entendido a declaração de Pezão como uma intenção de aproveitar melhor o potencial da Uerj, como “apoio”.
Polêmica dentro e fora do campus
Ontem, o risco da privatização ainda estava sendo discutido pelos alunos da Uerj, quando a notícia do projeto de lei começou a ser divulgada.
— Temos o direito à educação. Entramos aqui por uma seleção. O ensino não é de graça, mas público, e é pago com nossos impostos. Se ele fizer isso, vamos todos para as ruas protestar — disse Natany Peres, de 21 anos, aluna de Engenharia.
Para a advogada Alessandra Gotti, obrigar os formandos a trabalhar em instituições públicas seria inconstitucional:
— Não é preciso uma lei para criar uma sistema de parceria entre a universidade e poder público. Seria melhor estimular e criar no âmbito estudantil essa noção da importância de nos colocarmos a serviço da população.
Fundadora e presidente executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz também criticou.
— A universidade pública não é gratuita. Todo contribuinte paga imposto para que as pessoas tenham acesso a ela. Não se pode criar uma vinculação futura a partir de um direito. Essa inversão não está correta. Poderia criar um distúrbio no mercado de trabalho. O debate correto seria uma universidade paga para alunos com nível socieconômico mais alto e bolsa integral para aqueles abaixo de determinada renda — sugeriu.
11ª melhor do país
Com quase 42 mil alunos, a Uerj vem conseguindo manter a qualidade do ensino, apesar da grave crise que enfrenta. Foi eleita, anteontem, a 11ª melhor universidade do Brasil, segundo ranking da revista britânica “Times Higher Education”, que, desde 2011, realiza uma das principais avaliações educacionais do mundo todo.
Foto: Jorge William / Agência O Globo
via: jornal extra
08/09/2017