Reportagem; Geraldo Ribeiro
Os pais do bebê que nasceu após a mãe ser baleada na cabeça no último sábado, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, passaram os últimos três anos tentando ter um filho.O corretor de imóveis Wallace Araújo, de 34 anos, contou que ele e Michelle Ramos da Silva, de 33 anos, estão juntos há oito anos, mas só começaram a planejar a chegada do herdeiro depois de cinco anos de vida em comum, período que o casal havia reservado para se preparar financeiramente.
O menino que sofreu as complicações do parto prematuro, ganhou o nome de Antônio, e ainda luta pela vida, assim como sua mãe. O pai está confiante num milagre para reunir sua família.
— A justiça de Deus não vai falhar. Eu acredito muito na justiça de Deus e creio muito no milagre. Por mais que esteja passando essa dificuldade eu acredito que o amor vai vencer. A vida vai vencer. Estou com muita fé em Deus. Acredito que isso não vai interromper a vida da minha família. Essa situação não vai sem uma vírgula, nem nada. Nós vamos sair dessa. Minha esposa vai sair dessa. Meu filho vai sair dessa. É essa a minha esperança. Eu não estou hesitando em relação a isso — garantiu o corretor de imóveis.
Wallace e Michelle se conheceram há cerca de 13 anos, numa igreja evangélica que ambos frequentavam, quando começaram a namorar. Depois disso, chegaram a trabalhar juntos no mesmo cartório onde a mulher permaneceu depois que ele trocou de ramo. O primeiro endereço do casal foi em Nova Iguaçu e há cerca de seis meses se mudou para Belford Roxo. No dia em que a mulher foi baleada, Wallace fazia o trajeto normal de todos os dias, indo deixar a esposa no trabalho em Mesquita para depois buscar a irmã, que trabalha com ele e mora na mesma cidade da Baixada Fluminense.
O casal foi abordado por bandidos na manhã de sábado, a caminho do cartório, primeira parte do trajeto. O carro que seguia à frente reduziu a velocidade e o homem que estava no banco do motorista saltou. Segundo o corretor, o criminoso logo atirou. Em seguida, o bandido que estava no banco do carona saltou e, ao ver que Michelle estava ferida, começou a gritar: "você matou ela!". A dupla, então, voltou para o veículo e fugiu.
O crime interrompeu os preparativos para a chegada do bebê, planejada para até o começo de março. Por enquanto só o berço foi comprado e nem chegou a ser montado ainda. Um escritório da casa que estava sendo adaptado para virar o quartinho de criança seria pintado nesta semana. No próximo sábado o casal marcaria o chá de bebê e na semana seguinte planejava inicar a compra o enxoval.
— Nós optamos por não ter filho no início. Depois ela parou de tomar o remédio (anticoncepcional) e teve dificuldade para engravidar. A preocupação inicial era estabilizar profissionalmente e financeiramente — disse o corretor, que não cogita a hipótese de mãe e bebê sobreviverem com sequelas e sonha ter o filho nos braços.
Desde o último sábado, Wallace vem se dividindo entre o Hospital Geral de Nova Iguaçu, onde Michelle está internada, e Maternidade Mariana Bulhões, próximo dali, onde o pequeno Antônio luta pela vida. A rotina foi interrompida no começo da tarde desta segunda-feira, quando o pai compareceu à 54ª DP (Belford Roxo) para prestar depoimento.
— Passei todas as informações para o delegado e ele me garantiu que a equipe está empenhada em resolver o problema. Estão todos trabalhando no caso. Infelizmente, não posso passar mais informações para não comprometer a investigação, mas me coloquei a disposição dele e acredito que, com certeza, eles vão solucionar o caso — contou o pai.
O menino respira com a ajuda de aparelhos e usa medicações para manter os batimentos cardíacos. A mãe apresentou uma ligeira melhora, nesta madrugada, mas seu estado ainda é considerado grave pela equipe médica.
— A mãe apresentou uma ligeira melhora hoje, quando ocorreu a diminuição da sedação, mas amanhã (terça-feira), quando termina o período mais crítico de 72 horas, é que será possível definir melhor o quadro dela, com a redução da sedação por completo — disse Joé Sestello, o diretor do hospital.
Michele foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Bom Pastor e, de lá, transferida para o Hospital Geral de Nova Iguaçu. Ela passou por uma cesariana de emergência. O caso está sendo investigado pela 54ª DP (Belford Roxo).
Veja, a seguir, a nota do hospital divulgada nesta segunda-feira:
“O Hospital Geral de Nova Iguaçu (Hgni) informa que o estado de saúde de Michelle Ramos da Silva Nascimento, de 33 anos, permanece grave, porém estável. Segundo a equipe de neurocirurgia, ela apresentou uma pequena melhora e a previsão é que nas próximas 24h a sedação do coma induzido seja reduzida. Michelle está internada no CTI da unidade.
O bebê, do sexo masculino, está internado na Uti neonatal da Maternidade Municipal Mariana Bulhões. O estado de saúde continua grave, porém estável.
Michelle deu entrada na unidade na manhã deste sábado (13), após sofrer um ferimento na cabeça provocado por arma de fogo, em Belford Roxo.
Ela estava grávida de oito meses.
Foi atendida na emergência e submetida a uma cirurgia para descompressão craniana. Equipes médicas (pediatra e obstetra) e de enfermagem da Maternidade Mariana Bulhões foram acionadas pela unidade e após avaliação, optaram por realizar a cesariana.
O bebê foi transferido de ambulância com Uti móvel do Samu para maternidade.”
via: Jornal Extra
16/01/2018