O esporte costuma ser uma das principais ferramentas de inclusão social, especialmente entre crianças e adolescentes. E Nova Iguaçu deu mais um passo em direção à socialização. A partir do próximo ano letivo algumas escolas estarão aptas para oferecer atividades físicas aos alunos com baixa visão e cegos. Nesta semana, 25 professores de Educação Física da rede municipal participaram da Capacitação Esportiva para Deficientes Visuais.
A formação realizada no CIEP 071 - Maximiano Ribeiro da Silva, em Jardim Iguaçu, aconteceu graças a uma parceria entre a Prefeitura de Nova Iguaçu, através da Secretaria de Educação, e a Associação Urece Esporte e Cultura para Cegos, do Rio de Janeiro. O objetivo foi orientar professores sobre como lidar com alunos com este tipo de deficiência. Atualmente o município atende a 18 alunos com baixa visão e sete cegos.
As atividades propostas durante a capacitação foram divididas entre teoria, na qual os professores aprenderam a descrever as atividades de forma minuciosa e até através do toque e também a descrição de vídeos exibidos em sala de aula. No segundo momento, os profissionais da educação se juntaram aos atletas na Urece e aprenderam a jogar o golbol (goalball, em inglês) e o futebol de 5. Os dois esportes são praticados por atletas com deficiência visual e utilizam bolas com guizo, para que os jogadores se guiem pelo som emitido por elas.
A experiência foi inédita para Cátia Simão, professora de Educação Física da E. M. Monteio Lobato, no Centro. Ela, que atualmente não trabalha com alunos deficientes visuais, pretende colocar em prática os ensinamentos adquiridos quando necessário. “Esta capacitação é muito rica. Faz a gente aproximar a realidade das crianças cegas com daquelas que enxergam. Além disso, o celeiro do esporte é na escola. Então esta é uma forma de motivá-los a praticar alguma modalidade esportiva”, afirma Cátia.
Campeão paralímpico aponta caminho do sucesso
A capacitação foi aplicada por Anderson Dias da Fonseca, ex-jogador da seleção brasileira de futebol de 5. Ele, que é cego, defendeu a ‘amarelinha’ por 10 anos e teve importantes conquistas como a medalha de ouro na Paralimpíada de 2004, em Atenas, na Grécia, além do bicampeonato mundial e do tricampeonato sul-americano.
“Através do esporte, pude conhecer 16 países e diversas cidades em todo o Brasil. Tudo o que as crianças precisam é de um incentivo, pois há muitos talentos que precisam apenas ser lapidados”, afirma o multicampeão. “Queremos mudar o jeito de olhar das pessoas em relação ao esporte para cegos. Os professores precisam entender que muitos de seus alunos podem ter potencialidades que acabam não sendo desenvolvidas pela falta de atendimento adequado”, conclui.
O professor Marco Antônio Pires, que já passou por uma capacitação semelhante, revela que utiliza o aprendizado em suas aulas de Educação Física nas E. M. Therezinha de Jesus Araújo Hermida, em Parque Estoril, e Janir Clementino Pereira, em Miguel Couto.
“As faculdades de Educação Física dão pouca importância à inclusão do aluno com deficiência visual às atividades físicas. Formações como essa são importantes para atualizar o professor sobre essa nova realidade. A proposta é um grande passo e nos mostra que é possível sim a socialização através do esporte”, afirma Marco Antônio. Ele diz que percebe nas escolas onde trabalha a mudança de comportamento dos alunos. "Se a capacitação oferecida aos professores de Educação Física vai culminar com o surgimento de novos campeões paralímpicos, ainda não é possível afirmar. Mas certamente a inclusão social através do esporte fará diferença na vida destes alunos para o desenvolvimento como seres humanos”, completa Anderson Dias.