Logo nos primeiros dias do ano, a Baixada Fluminense foi o cenário da morte de Kevin Lucas dos Santos Silva, de 6 anos, morto por um tiro durante troca de tiros entre polícia e criminosos em Queimados, na Baixada Fluminense (RJ) - uma outra criança, de 9 anos, e uma adolescente, de 13, também foram atingidas. A violência se estendeu ao longo do mês e a região concentrou o maior número (36%) de baleados em todo o Grande Rio em janeiro, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, 44 pessoas foram baleadas: 26 morreram e 18 ficaram feridas.
A Baixada Fluminense também concentrou 34% dos tiroteios ocorridos na Região Metropolitana do Rio.
Para Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, a região da Baixada Fluminense é um dos retratos da desigualdade no Rio de Janeiro. “Enquanto não houver políticas de prevenção da violência e de inclusão social, sobrará para a Baixada Fluminense um saldo de mortes e de tiroteios, sem preocupação nenhuma com os impactos na vida da população”, afirma Maria Isabel.
A Baixada é composta pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica.
Veja a posição das regiões do Grande Rio no número de tiroteios:
Baixada Fluminense: 78 tiroteios, 26 mortos e 18 feridos
Zona Norte da capital: 75 tiroteios, 11 mortos e 16 feridos
Leste Metropolitano: 39 tiroteios, 18 mortos e 11 feridos
Zona Oeste da capital: 23 tiroteios, 8 mortos e 11 feridos
Centro da capital: 8 tiroteios
Zona Sul da capital: 4 tiroteios e 2 feridos
Janeiro em dados
Durante o mês de janeiro, houve 227 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo Relatório Mensal do Instituto Fogo Cruzado. O número de tiroteios no mês caiu quase pela metade em comparação com janeiro de 2021, quando houve 424 registros.
Um em cada três tiroteios na Região Metropolitana em janeiro ocorreu em ações e operações policiais. Ao todo, foram 72 registros. Em comparação com janeiro de 2021, o número de tiroteios nessas ocorrências caiu quase pela metade: nesse período do ano passado foram 128 registros.
121 pessoas foram baleadas na Região Metropolitana do Rio: destas, 63 morreram e 58 ficaram feridas. O número de mortos caiu 46% e o de feridos, 44% em comparação com janeiro de 2021, que concentrou 220 baleados - 116 mortos e 104 feridos.
Comparado a dezembro, que concentrou 267 tiroteios/disparos de arma de fogo, deixando 77 mortos e 77 feridos, janeiro apresentou queda de 15% nos tiroteios, de 18% nos mortos e de 25% nos feridos.
Em janeiro, as datas mais afetadas pela violência armada foram os dias 22 e 24, com 13 tiroteios cada. Dia 13 com 10 mortos; dias 26 e 31 com oito feridos.
O mapa da violência
Dos municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os cinco mais afetados foram:
Rio de Janeiro: 110 tiroteios, 19 mortos e 29 feridos
Duque de Caxias: 31 tiroteios, 9 mortos e 4 feridos
São Gonçalo: 18 tiroteios, 9 mortos e 4 feridos
Belford Roxo: 18 tiroteios, 2 morto e 2 feridos
Niterói: 14 tiroteios, 7 mortos e 4 feridos
Entre os bairros da Região Metropolitana do Rio, os cinco mais afetados foram:
Olavo Bilac - Duque de Caxias: 12 tiroteios e 1 morto
Brás de Pina - Rio de Janeiro: 12 tiroteios e 2 feridos
Vila Centenário - Duque de Caxias: 6 tiroteios e 3 mortos
Cascadura - Rio de Janeiro: 6 tiroteios, 2 mortos e 1 ferido
Gláucia - Belford Roxo: 6 tiroteios
Em janeiro, houve 17 tiroteios/disparos de arma de fogo em áreas de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ao todo, duas pessoas foram baleadas e sobreviveram. As UPPs afetadas pela violência armada foram:
Prazeres: 3 tiroteios
Complexo de Manguinhos: 2 tiroteios e 1 ferido
Formiga: 2 tiroteios
Jacarezinho: 2 tiroteios
Turano: 2 tiroteios
Macacos, Rocinha, Providência, São João, Tabajaras e Borel, contabilizaram um tiroteio cada, mas sem vítimas.
Perfil da violência em janeiro
Houve cinco chacinas em janeiro deste ano no Grande Rio, deixando 16 mortos no total. Quatro destes casos foram em ações/operações policiais. Em janeiro de 2021, houve sete chacinas que deixaram 27 mortos. Cinco delas foram em ações/operações policiais.
Houve 18 casos de roubos ou tentativas de roubo que terminaram em tiros no Grande Rio. Ao todo, 20 pessoas foram baleadas nestes casos: sete morreram e 13 ficaram feridas. Em janeiro de 2021 houve 20 casos de roubos e tentativas que deixaram 22 baleados no total (15 mortos e sete feridos).
Sete agentes de segurança foram baleados: cinco morreram (dois em serviço, dois fora de serviço e um era aposentado/exonerado) e dois ficaram feridos (um em serviço e um fora de serviço). Em janeiro de 2021, houve 15 agentes de segurança baleados, sendo cinco mortos (quatro fora de serviço e um era aposentado/exonerado) e 10 feridos (seis em serviço, três fora de serviço e um era aposentado/exonerado).
Nove pessoas foram vítimas de bala perdida no Grande Rio: destas, duas morreram e sete ficaram feridas. Entre essas nove vítimas, oito foram atingidas durante ações/operações policiais. Em janeiro de 2021, houve 13 vítimas de balas perdidas: destas, seis morreram e sete ficaram feridas. Entre as 13 vítimas, três foram atingidas em ações ou operações policiais.
Duas crianças (com idade inferior a 12 anos), sete adolescentes (com idade entre 12 e 17 anos) e um idoso (com idade a partir de 60 anos) foram baleados no Grande Rio: destes, uma criança, dois adolescentes e um idoso morreram. Em janeiro de 2021, houve três crianças, quatro adolescentes e três idosos baleados no Grande Rio: destes, uma criança, dois adolescentes e um idoso morreram.
SOBRE O FOGO CRUZADO
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.
Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.