“Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Será?!
Mães de três filhos cada uma e profissionais que trabalham diretamente com executivos de empresas, uma de nossas maiores preocupações é oferecer uma educação que possa formar pessoas íntegras e que façam a diferença para o mundo. Por essa razão, buscamos sempre referências que possam nos ajudar nessa tarefa nada fácil.
Uma leitura recente que nos trouxe muita reflexão foi a do livro “O foco triplo: Uma nova abordagem para a educação”, de autoria de Daniel Goleman e Peter Senge. Na obra, os autores questionam o modelo educacional atual e propõe três objetivos para os quais os pais devem estar atentos na criação dos filhos.
Neste mês dos pais, não resistimos à tentação de traçar um paralelo entre a paternidade e a liderança.
Goleman e Senge apontam como primeiro foco a necessidade de desenvolvimento do autoconhecimento desde cedo. Pessoas que reconhecem suas emoções e reconhecem os seus “gatilhos” e padrões de pensamento e de comportamento dominam com mais facilidade suas atitudes frente à vida. Quando fazemos um paralelo com a liderança, o questionamento que nos vem em mente é: nossos líderes conhecem a si mesmos? E conseguem desenvolver e influenciar sua equipe para que cada um se conheça e possa fazer sua autogestão?
“Be in someone´s shoes” (estar “com os sapatos” de alguém, em tradução livre) é uma expressão inglesa que evoca a necessidade da empatia, o segundo foco trazido pelos autores. A empatia, que se trata da capacidade genuína de se entender o que o outro pensa e sente, e de sentir compaixão, também é uma competência a ser desenvolvida na liderança. O líder, assim como um pai, precisa ser empático com a equipe. Isso aproxima e humaniza, gerando vínculos que refletem nos resultados.
Como terceiro foco, Goleman e Senge apontam a necessidade de se desenvolver o pensamento sistêmico – importante sempre na leitura da realidade, imprescindível hoje, em um mundo conectado e em rápida transformação.
Pais e líderes devem estimular o entendimento das conjunturas em sua complexidade, e não uma visão “compartimentada” ou simplificada da realidade. Tecnologia, política, história, economia, cultura – tudo se conecta na vida, assim como todos os elementos que compõem o ecossistema de uma organização ou empresa estão interligados e são interdependentes. Não há mais espaço para “feudos” ou para processos e pessoas engessadas.
Ao nos aprofundarmos nessa leitura e em nossas próprias experiências e reflexões, foi impossível não lembrarmos de como a paternidade e a liderança mudaram e vem mudando. São novos paradigmas que nos impulsionam a vivermos uma história diferente de nossos pais e de nossos líderes.
Enxergamos pais e líderes como grandes guardiões da ética e dos valores para seus filhos e subordinados. Zelar pela essência – seja da família ou da empresa- é um passo importante para a perenidade e harmonia das relações familiares e da sustentabilidade de qualquer negócio. Mas, hoje, pais e líderes precisam evoluir em seus papéis – não mais serem os únicos detentores do poder e do conhecimento - mas, sim, aqueles que impulsionam o aprendizado contínuo e colaborativo.
Nossa mensagem para os pais e líderes é inspirada em Ricardo Amorim que definiu em um de seus artigos que paternidade é um misto de “atenção e expectativas”. Acreditamos no poder da escuta ativa e na comunicação clara para o alinhamento do que se espera. E mais ainda: acreditamos que, assim como a paternidade, a liderança é também um papel de amor e cuidado e que bem utilizada oferece ao mundo não apenas profissionais melhores, mas seres humanos que podem fazer a diferença.