Um levantamento divulgado em 2023 pelo Instituto Trata Brasil, com base nos indicadores de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), aponta que 100 milhões de brasileiros não têm acesso à rede de esgoto e 35 milhões enfrentam a falta de água potável. Esses números alarmantes revelam uma crise que afeta diretamente a saúde pública e aumenta os custos do sistema de saúde no país.
A precariedade do saneamento básico reflete-se em internações por doenças evitáveis. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2023 foram registradas 191 mil internações por doenças de veiculação hídrica, superando as 143 mil de 2022. O infectologista Dr. Ivan Silva Marinho, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, alerta que a falta de água potável e coleta de esgoto resulta em uma ampla gama de enfermidades, dentre as quais estão:
Diarreia infecciosa
Hepatite A
Cólera
Leptospirose
Esquistossomose
Febre tifóide
Infecções dermatológicas e oftalmológicas
"A ausência de saneamento básico deixa milhões de brasileiros vulneráveis a doenças que poderiam ser facilmente evitadas. Essas condições impactam diretamente a saúde, especialmente das crianças, que são as mais afetadas", destaca o Dr. Ivan. Crianças doentes, além de faltarem na escola, ainda ficam debilitadas em sua fase de crescimento, comprometendo a capacidade de aprender, com reflexos em sua vida futura.
Além das implicações para a saúde, os custos econômicos e sociais também são elevados. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada dólar investido em saneamento gera uma economia de até US$ 4 em gastos com saúde pública. As doenças de veiculação hídrica impactam diretamente a condição de trabalho e desenvolvimento das pessoas, o absenteísmo e a produtividade das empresas, com reflexos no desenvolvimento econômico e social e competitividade do país.
Sibylle Muller, engenheira civil e CEO da NeoAcqua, reforça: "No Brasil, o déficit de saneamento impacta diretamente os gastos públicos. O Marco Legal do Saneamento tem impulsionado o aumento da cobertura dos tratamentos de água e esgoto, mas ainda serão necessários mais investimentos para atingir a universalização do saneamento no País”. A especialista também aponta caminhos viáveis para acelerar os avanços no setor. "Sistemas descentralizados de tratamento de esgoto, projetados com tecnologias eficientes, especialmente em áreas não atendidas por rede de coleta, são alternativas econômicas para redução do deficit do saneamento e da poluição de rios, lagos e outros cursos d’água. Contudo, é necessário um esforço conjunto entre governos e iniciativa privada para ampliar o alcance dessas soluções", explica Sibylle.
Os dados são claros: o déficit de saneamento básico é mais do que um problema de infraestrutura. Ele compromete vidas, agrava a pobreza e representa um entrave ao desenvolvimento econômico sustentável do país. Garantir acesso a água potável e serviços de esgoto deve ser uma prioridade nacional, unindo esforços públicos e privados para reverter esse cenário.